quinta-feira, 20 de agosto de 2015

SÓCRATES E PLATÃO: PRECURSORES DA DOUTRINA ESPÍRITA

            

            É sabido que Kardec expôs os antigos gregos, notadamente Sócrates e Platão, como precursores da doutrina Cristã e do Espiritismo (Veja “O Evangelho Segundo o Espiritismo, Indrodução, pág. 32 e seguintes).

            Longe de querer plagiá-lo ou de querer ser redundante, resolvi me enveredar um pouco mais nesse tema, olhando mais de perto a influência desses filósofos no Espiritismo.

            Entre algumas leituras dos textos de Platão encontrei, como  Kardec, claras alusões ao Espiritismo, tal como essa doutrina é, nos dias de hoje, disseminada pelas falanges espíritas, suaves brisas espalhando sementes fecundas por toda a Terra.

            Um desses textos, a obra “Cratylos”, tem como enfoque filosofar sobre a essência da nomenclatura de seres e objetos, não apenas sob o prisma da etimologia, mas também sob a ótica de ser essa nomenclatura uma ferramenta investigativa da essência desses mesmos seres e objetos. Essa  obra é uma conversa entre Hermógenes, Sócrates e Cratylus, reproduzida por Platão.

 A certa altura, essas discussões sobre a semântica que traz a verdade essencial de cada ser existente esbarram nas discussões sobre a alma e sua significação.

Traduzi aqui, do inglês, trechos dessa obra, porque eles expressam, por si mesmos, conclusões muito interessantes sobre o valor espírita que carregam.




Sóc.: (Referindo-se a uma obra de Heríodo) Você se lembra do que ele (Heríodo) fala sobre uma raça de homens de ouro que vieram (à Terra) primeiro?

Her.:Sim, me lembro.

Soc.: Ele diz:

“Mas agora o destino se fechou sobre essa raça
Eles são os DEMONS (sábios/gênios/ESPÍRITOS) sobre a Terra.
Caritativos, livre de doenças, guardiões dos homens mortais.”


Ao ler esse pequeno trecho do verso de Heríodo, não temos a imediata ideia dos espíritos benfeitores a cuidar dos homens encarnados?





E o texto  Cratylus continua:




Her.: Qual a conclusão?

Soc.; Qual a conclusão? Eu suponho que ele (Heríodo) tenha dado a “homens de ouro” não o significado literal de ser feito de ouro, mas sim, de serem criaturas boas e nobres e eu estou convicto disso porque, mais adiante, ele diz que são uma raça de ferro.´


Heríodo, como podemos perceber no texto, poderia muito bem ter dado o sentido metafórico de LUZ para a palavra OURO.

Her.: É verdade.

Soc.: E você não acha que “homens de ouro” em nossos dias seria descrito por ele como “raça de ouro”?



Nesse trecho, Platão abstrai o sentido de Heríodo, ampliando-o e  elevando a palavra “homem” para uma espécie acima dos homens mortais. Seria uma categoria superior, os “espíritos elevados”,como bem podemos perceber nas linhas seguintes:


Her.: Verdade.

Logo: Homens de ouro = ESPÍRITOS DE LUZ!


Soc.: E o que é bom não é (igualmente) sábio?

Her.: Sim, é.

Soc.: Então eu tenho inteira convicção de que ele (Heríodo) os chamou de “Demons” porque  eles eram “Daemones” (conhecedores ou sábios na língua grega) e em nosso velho dialeto essa palavra aparece. Ele e outros poetas dizem, verdadeiramente, que quando um homem bom morre, ele recebe honra e reconhecimento entre os mortos, e se torna um “demon”, que é o nome dado a ele devido a sua significante sabedoria.
E eu digo isso também, porque todo homem sábio que acontece de ser um homem bom é mais do que humano (daimonion), não apenas na vida, mas também na morte, e ele é corretamente chamado de “Demon” (Sábio, e posteriormente como bem disse Kardec, espírito de modo em  geral).




Mais do que corroborar com a explicação de Allan Kardec para a palavra “Demon” (Veja o Evangelho Segundo o Espiritismo pág 35), que era a denominação dada pelos gregos aos espíritos, esse trecho de “Cratylos” afirma que é essa uma palavra atribuída aos espíritos sábios e bons, devido à ilibada qualidade moral dos mesmos. Como se vê, essa palavra não tem a menor ligação com o sentido que ela assumiu , diante da visão dos católicos da idade média, de que “Demons”, os demônios,  seriam espíritos criados na sua origem pelo diabo e essencialmente maus.

O trecho transcrito acima afirma categoricamente, ainda, que há a vida após a morte, ao estender a qualidade de ser bom e sábio para o além túmulo.





Mais adiante, o texto analisa  a origem da palavra “Psique” (alma) e Soma (“Corpo”).




Soc.: Quando a alma  está no corpo ela é a fonte da vida e dá (a ele) o poder de respirar e reviver (anapsichon) e quando seus poderes de reviver falham, o corpo padece e morre, então, se eu não estiver enganado, a alma é chamada “Psique”.



Aqui, como podemos notar, a alma assume dois estados: a de estar unida ao corpo, como sua força motriz, e como a descrita pelo “Livro dos Espíritos”, como sendo livre do corpo, chamada então de “Psique”. Platão fala da alma como sendo algo pré-existente, anterior ao corpo e que pode estar, ou não, unida ao Soma (corpo).

Mais adiante:




Her.: Mas o que nós dizemos da próxima palavra?

Soc.: Você quer dizer Soma (corpo)?

Her.: Sim.

Soc.: Isso pode ser interpretado de maneira variada, e ainda mais variavelmente se uma troca de letras for permitida. (O texto se refere à troca da palavra SOMA por SEMA).

Soc.: Por alguns, é dito que o corpo é o túmulo (Sema) da alma que pensam enterrar em nossa vida presente. Diz-se como sendo o index da alma, porque a alma dá indicações (SEMAinei) ao corpo.


Provavelmente, os poemas de Orpheu foram os inventores desse nome, porque eles estão sob a crença de que a alma está sofrendo (no corpo) as punições pelos seus pecados e de que o corpo é uma clausura ou prisão, na qual a alma é encarcerada, mantida segura ( soma / sozetai), como o nome  “ooma” implica, até que a penalidade  seja paga. De acordo com essa visão, nem uma única letra (de Soma) precisa ser modificada para se exprimir o total sentido do seu significado.


Nesse trecho, Platão consagra a visão de Orpheu para o corpo (Soma).

 Como a Doutrina Espírita propaga, o corpo  é um veículo ou ferramenta para o espírito expiar dívidas de vidas anteriores e para evoluir de acordo com a "Lei do Progresso". Sob esse enfoque, a teoria das Penas Eternas”, apregoada por algumas religiões, aqui não encontra espaço, uma vez  que fica claro existir a penalidade de enclausuramento no Soma  apenas em caráter temporário, até que  a divida espiritual seja paga.

Aliás, o próprio Cristo derruba a teoria das “Penas Eternas”, quando diz:




“ Entra em acordo sem demora com teu adversário, enquanto estás em caminho com ele, para que não suceda que te entregue ao juiz e o juiz te entregue ao teu ministro e seja posto em prisão. Em verdade te digo, dali não sairás antes de teres pago o último centavo”.
                                                                                           (Mateus 5. 6  - 25 e 26)



            As almas desencarnadas, maculadas por rixas cheias de ódio, se prendem em grilhões "cármicos" e recebem, de acordo com suas obras e intenções, a sentença do “grande Juiz”, Deus. Porém fica claro na citação do Messias que nenhuma dívida é eterna e que o espírito, uma vez que tenha expiado suas imperfeições,e aprendido com elas,  está perdoado e liberto. Como o preso que sai do seu cárcere, ele não precisa mais encarnar. Já pagou sua dívida “até o último centavo”.


Como se vê, os gregos  já debatiam vários conceitos que foram abordados no Livros dos Espíritos e essa breve análise nossa, além de trazer à luz a beleza do Espiritismo, realça o aspecto filosófico contido no seu tríplice aspecto de ciência, doutrina e religião.


Até o próximo "post", quando falarei um pouco sobre OS MISTÉRIOS DE ELEUSIS.





quarta-feira, 5 de agosto de 2015

CABALA ESPIRITUALISTA ( parte 1)




INTRODUÇÃO:

A Árvore da Vida traz em seu bojo a dualidade de toda manifestação: tem um sentido individual e outro ligado à totalidade. Revela a ligação cósmica intrínseca da criatura com o poder supremo e indefinível, causa primária, ou primeira, de todas as coisas, Deus.

Aqui vamos estudar a Cabala sob a ótica Espírita. Atenção:não estou dizendo que a Cabala está contida no Espiritismo ou vice - versa. Faremos apenas uma abordagem comparativa sem cair nas mistificações ou distorções. Vamos, juntos, investigar se os espíritos já não estariam ensinando veladamente  parte do que nos prometeu Jesus com a vinda do "Espírito da Verdade" e que posteriormente  eclodiu com a codificação dos ensinamentos dos Espíritos,codificação essa feita criteriosa e idoneamente por Alan Kardec. O conteúdo moral dos ensinamentos, e não a forma simbólica deles, é  o que norteará nossos estudos...

Bem,  continuemos nossos estudos:

Simbolicamente, no Gênesis, a Árvore da Vida está representada pela Árvore do Conhecimento. A Humanidade, por causa da opção de se conhecer todos os aspectos do bem e do mal,teria que peregrinar pelo mundo material até  que ,pelo livre arbítrio, pela evolução e pelo aprendizado contínuo, conseguisse retornar ao Éden, ícone metafórico do mundo espiritual e do reencontro com o Criador.

A propósito, a serpente, entre os antigos estudiosos e esotéricos, nunca foi símbolo de maldade. Essa ideia originou-se no Catolicismo Medieval.A serpente,originalmente, sempre foi símbolo de Conhecimento e Sabedoria e a árvore, por sua vez, é o símbolo dos caminhos evolutivos e espirituais da Vida.





À  “Lei de Correspondência” da Cabala atribui-se esse provérbio  de  Hermes Trimegisto:

 “Como é em cima, tal é embaixo”...

Essa  expressão metafórica se  espelha na “Lei de Afinidade ou de  Sintonia do Espiritismo”, pois nos ensina que  tudo o que se manifesta no corpo, mente e espírito do ser humano encontra sua correspondência vibratória no Universo.

"A mente humana é um centro gerador de forças e de conexões. Assemelha-se a uma estação transmissora e receptora a espraiar ondas de pensamentos as quais sintonizam com outras inteligências tanto de espíritos reencarnados, quanto dos desencarnados, conforme as leis da afinidade e da sintonia"

Mentes Interconectadas e a Lei da Atração: Suely Caldas Schubert, editora EBM,p.95 


Segundo a escritora Ann Williams Heller, a árvore da vida reflete a história da humanidade no Universo e a história do Universo na humanidade...



Entendemos, à luz do Espiritismo, ser o Homem mais do que a matéria: possui "períspirito" e espírito e tem um “continuum” existencial entre matéria e consciência, sento essa última a geratriz do pensamento e a manifestação do espírito imortal.

A ciência hoje, com o estudo dos Campos Morfológicos e a Epigenética caminha no sentido de ratificar essa visão físico-astral-espiritual do ser humano.

E a Cabala nos ensina sobre “as leis da vida em movimento”, a rede precisa e cósmica de vibrações universais em completa interação, vibrações essas que atuam ocultas por trás de tudo que é vivenciado no mundas das “formas”. Embora essas “leis” não possam ser apalpadas fisicamente, seus padrões de ordem e atuação movem tudo que se manifesta na matéria.




Seguindo os ramos da árvore da vida, composta pelas dez sephiroth, conseguimos perscrutar a ordem universal que está por trás da aparente desordem terrena e vislumbramos o que nossos sentidos comuns não conseguem perceber. A árvore da vida é um diagrama pictórico dos caminhos que contam para nós a grandiosa sinfonia da vida que se manifesta desde o seu criador invisível até aquele que é designado seu herdeiro co-criador, o ser que respira, criado “simples e ignorante” e que evolui espiritualmente em direção à perfeição do Criador como um co-criador.



Muitas vezes, a Cabala é também simbolizada por uma árvore com copas ou raízes espelhadas. Esse símbolo faz alusão à frase já mencionada “Como é em cima, tal qual é embaixo”, mas também nos lembra a frase:

 “Seja feita a Sua vontade, assim na terra como no céu...” 
                                                    
Observando esse trecho da oração do “Pai Nosso” sob a luz da Cabala, vislumbramos que a vontade do Criador se manifesta harmonicamente nas leis naturais, tanto no mundo espiritual como no material, uma vez que que esses mundos são as duas faces da mesma moeda, moeda essa que reverbera o sentido grandioso da evolução.

 A propósito, um livro iluminado que traz essa parceria cósmica da "Terra" e do "Céu" é o "Evolução entre Dois Mundos", escrito por Francisco Cândido Xavier e Valdo Vieira.




Até o próximo "post"!